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Memórias indigeríveis - Parte IV


Suas manhãs exatamente se resumiam em um bombardeamento de ideias e sentimentos indescritíveis. Procurava interpretar a si mesmo e não conseguia. Apenas conseguia passar no papel o que estava sentindo e nem mesmo assim conseguiam entende-lo. Transmitia alegria, longos sorrisos, gargalhadas e ao mesmo tempo estava se sentindo vazio por dentro. Conversava expressando suas teorias e seus conselhos e ao mesmo tempo estava necessitando que alguém fizesse o mesmo com ele.

Mas para não ficar só com seus pensamentos e sentimentos buscava estudar e rir com seus amigos pelas demoradas manhãs que passavam juntos. As tardes eram dedicadas a escrita, pois era quando refletia sobre sua vida e parava para despejar no papel tudo o que sentia pela tão sonhada escrita e o que ela refletia em sua vida. Mas acima de tudo buscava conciliar o seu dia a dia à sua forma de pensamento errônea e ao mesmo tempo perspicaz. Para as mentes mais atentas, já conseguiram entender e identificar até aqui onde se encontra a conciliação da escrita com a vida matinal de nosso querido escritor.

A escrita até então era um Hobbie, algo que o enchia de felicidade, que o deixava perdido em êxtase, que o conseguia interpretá-lo, mas acima de tudo fazer com que ele se sentisse o mais próximo de si. Era uma ligação intensa consigo, com seu lado interior que apenas trazia palavras como conforto e afeto que as vezes faltavam no seu dia a dia e que ele conseguia passar para si. Algo até então enigmático, onde apenas escritores conseguem entender e sentir. Mas nada que uma música calma não seja capaz de fazer com que cada ser humano se sinta bem consigo e faça seus sentimentos serem todos entendidos.

A compreensão surgia aos poucos enquanto escrevia, no começo era uma bagunça total, uma bagunça que ia se organizando aos poucos, mas que no final ficava perfeito com as ligaduras enigmáticas de sentimentos indiscretos e ao mesmo tempo incompreensíveis. Entretanto, uma alegria incomensurável ao saber que estava escrevendo algo que o fazia refletir sobre si mesmo e que alguns compreendiam e admiravam. Magnífico e ao mesmo tempo um pouco egocêntrico, mas um egocentrismo bom. Não exatamente bom, mas uma auto-estima esperada que surgisse todos os dias nessa mesma hora do dia, onde se falta chão.

Ao voltar da escola, apenas deitar no sofá e ligar a TV seria uma forma de diversão diferente da que estava acostumado a viver, pois apenas estudar e refletir não seria uma forma incomensurável de conquista para si. Entretanto, o que tanto queria era se entender. O amor era indecifrável, mas nada que um belo ponto de vista não o mudasse e desse forma a ele, nosso querido escritor sabia bem dar forma e dar gênero, sabia interpretá-lo mas não sabia depois como destruí-lo caso ele começasse a machucá-lo. Pois o amor começa como lagarta e ao cultivá-lo ele se encasula e se torna uma linda borboleta no final, mas caso você não saiba encasula-lo bem, ao final ele se torna um dragão e solta seu fogo de mentiras.

A indecifrável forma de ser, tornava-o belo e as vezes assustador. O amor sempre foi um dos sentimentos mais puros e o mais procurado dentre as gerações. Nenhum sentimento conseguiu se comparar a seu tamanho alcance de exatidão. O escritor/pianista/sonhador havia se deparado com o amor uma vez, e infelizmente soube que o amor não era uma figura totalmente bela como sempre expôs, mas soube guardar o amor que recebeu e expor em forma de palavras assim que perdeu um de seus maiores bens:

"Confesso que nunca quis aceitar aquela situação. Sorria para disfarçar meu estado emocional. Mas vê-la daquele jeito era de cortar o coração. Fiquei imóvel ao saber que ela apenas respirava por causa daquele tubo de oxigênio que trazia-lhe ar e mantinha-na viva. Mas nem sempre foi assim. 

Estou com saudade dos dias que ela riu comigo das brincadeiras idiotas que eu mesmo fazia. Eu era feliz. Sempre achava errado sentir-me bravo com alguma situação que ela julgava não estar certa. Afinal, ela sempre quis meu bem. Pena que minha pouca idade nunca pode ver isso como um bem e sempre como um ato de impedir que eu pudesse fazer qualquer coisa que me fizesse feliz. Não fui um exemplo de perfeição, mas diante das outras crianças eu era considerado um menino que toda mãe desejara. Calmo, não gostava de sair para lugar barulhentos, ajudava nos afazeres domésticos e era um cristão que mantinha sempre o vínculo com a igreja. Lembrando que foi ela que me apresentou a igreja.

Hoje não tenho mais aquele sorriso nos lábios que eu costumava ter. Sorrir para disfarçar essa dor é o que eu faço. Mas lembro muito bem que um dia antes de seu aniversário ouvi uma frase que nunca esperaria ouvir, principalmente dela, "Você já é o presente que Deus me deu". Fiquei feliz, pois diante dessa situação eu não esperava tamanha frase que me tocaria para o resto da vida. Digamos que ela nunca foi aquela pessoa que demonstrava tamanho afeto diante das minhas ações, era sempre mais reservada, mas eu sabia que estaria ali para me defender do que ela julgasse ameaçador, um "amor de mãe".

Estou sentindo saudades até hoje. Entendo o porque dizia que se um dia chegasse a partir dessa vida para outra, minha vida mudaria completamente. E mudou.

Talvez eu não tenha mais coragem de entrar no cemitério e ver aquele túmulo encoberto pela terra e flores que foram jogadas no dia de seu enterro. Chorei. Lágrimas eram migalhas perto do riacho que escorria de meus olhos. Mas até hoje me arrependo de uma só coisa. De nunca ter lhe dado um beijo no rosto quando estava naquele hospital. Creio que abraços e sorrisos estonteantes nunca foram o necessário.

Deus estava certo em me deixar aquele dia preso com ela naquele hospital, (mas outro dia continuo sobre esse assunto) me senti tão culpado por querer ir embora o mais rápido possível para não sofrer mais.

Só Deus sabe como me senti quando meu padrinho pediu para mim dizer algumas palavras sobre o que ela significou em minha vida. Chorei mais ainda. Mas enfim consegui dizer: "Eu não considero ela para mim como uma AVÓ, mas sim como uma MÃE".

Enfim, um amor sem igual e que nunca deixará mágoas e nem mesmo arrependimentos. Por fim, o escritor se propôs a expor o amor de outro ponto de vista,  de uma forma mais sentimental e de forma que fosse arquivada em seu livro empoeirado. Escrito por uma querida amiga escritora, Marcela Cunha, resumidamente direi algumas palavras à respeito dessa pessoa ao meu ver sarcástica quando necessário e vintage quando explorada: 

 "Amo o que ela escreve, sabe dar vida as suas histórias e transmitir-nos para outra dimensão. Já leu: As crônicas de Nárnia? Se sim, saberá bem como é estar ansioso e magnificado com cada parágrafo que estava por vir com grandes histórias e acontecimentos. Marcela Cunha é igual, deixa cada parágrafo de seus textos com gostinho de quero mais. E como não posso deixar de ressaltar, pois ela me mataria se eu não citasse, com o seu modo vintage de ser." - Christopher Duarte.

Dona do blog Garota Folhetim, pedi que ela estivesse expressando o que significa o amor para si. Eis o Resultado:

"Amor... “(...) é fogo que arde sem se ver/ é ferida que dói e não se sente/ é um descontentamento descontente/ é dor que desatina sem doer ” e blá blá.
Até hoje poeta algum conseguiu descrevê-lo com exatidão, eu, tão pequenininha em meio aos grandes mestres da escrita, vou tentar fazê-lo, escrever sobre o sentimento mais nobre que existe.  Vamos lá. Eu sei que estou amando quando começo a passar por cima de certos defeitos e a relevar até mesmo mentiras cabeludas. Quando sinto falta se não vejo a pessoa online no horário que estou acostumada. Quando começo a perder a racionalidade e o bom senso e passo a assistir programas de TV que eu jurava que jamais passaria os olhos. Quando pego problemas, dívidas, angústias, tarefa de casa, coloco nas costas e carrego comigo. Quando tenho medo de perder e de machucar, viro mãezona e amante, me divido em dez.
Talvez amor seja aquilo que nos transforma em pessoas melhores, superamos nossas barreiras e criamos dentro de nós uma paz que transcende a qualquer problema do dia-a-dia. Talvez seja a mistura de todos os sentimentos, o point zero, o equilíbrio de todas as coisas. E que só sente quem se entrega, e se permite, quem se deixa cativar. Aliás, amor não se descreve, nem mesmo Camões conseguiu. Amor a gente apenas sente." - Marcela Cunha.

Enfim, amor só é amor, quando se dá forma e adquire sentimento... Mas por que Memórias Indigeríveis está abordando isso? Quem ama as vezes sofre. E por que o nome: Memórias Indigeríveis? Isso só saberão no final, pois um bom escritor nunca revela seus segredos. Pelo menos, não agora...

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