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Memórias Indigeríveis - Parte V


Das manhãs de alegria as tardes de desabafo na escrita seguia seu dia. Tudo muito corriqueiro para si e ao mesmo tempo necessário, pois não conseguia ver-se fora desse “mundinho” que criou para si. Tudo necessário para fazer dessa até então chamada vida um lugar tranquilo e cheio de letras imensas que se atiravam pelo imenso céu e diziam juntamente com as outras os seus dilemas e os desabafos a serem descritos.

O amor próprio estava crescendo, após algumas decepções com suas escolhas e a falta de correspondência alheia somente ajudarão a construir esse ser desprovido de apego social. Não exatamente social, apenas tudo que envolvesse amor. Tudo que envolvesse o sentimento que mais preocupa os escritores ao relatar seu real sentido, que até então se faz enigmático. Amor daqui e dali, mas sabia dentro de si que amor maior até então não tivera fora o que recebera daquela senhora que soube ama-lo mais do que tudo (avó). 

As palavras estavam começando a perder sentido na vida real, estava tudo sendo considerado um simples texto, um simples poema, um simples escritor. Quando na verdade foi onde descobriu que estava diante de simples pessoas que não sabiam interpretar tamanha obra e nem ao menos se davam ao trabalho de analisar ou se interessarem. Apenas pode ouvir seus comentários desnecessários e começar a procurar por verdadeiras pessoas que pudessem identificar em cada parágrafo sua vida, sua história, uma parte de si que estava sendo doada de graça para a humanidade. Queria encontrar pessoas que se emocionassem ao lerem seus textos, que conversassem com ele sobre situações semelhantes, mas que acima de tudo, o entendessem.

O pequeno jovem escritor sempre quis ser reconhecido, ser considerado especial perante o meio que frequentasse, mas nos dias atuais preferia viver sendo especial apenas para si e sendo apenas mais um perante a sociedade. Quem estava certo dessa vez se faria errado e os errados se tornariam os certos. A sociedade entenderia, quem escreve: desabafa, retira uma parte de si e impacta no papel, expõe de maneira magnifica e triunfal mais um capítulo de vida em linhas, e por si só, fazem o simples continuar simples, mas com a convicção que esse simples lido por pessoas especiais se tornaria um tesouro.

Memórias indigeríveis nada mais é que todos os capítulos de nossa vida que impeçamos que saiam e sejam livres compactados em uma folha de papel. Todas as memórias ruins ou boas que não deixamos sair da mente ou do coração, mas apenas deixa-las confinadas com nossa alma e fingir que tudo está bem. Pois como bem já disse, todos temos um livro empoeirado cheio de páginas brancas para podermos desabafar o quanto quisermos, basta querermos. Basta que haja iniciativa, basta que haja atitude.

Guardar momentos, instantes e decepções apenas destroem o nosso EU interior, o que legitimamente somos, o que nos torna únicos, resumidamente, o que nos torna o que somos. Não deixe que seu EU interior lide com essas memórias indigeríveis, precisamos digeri-las, seja de qualquer forma artística: escrevendo, pintando, cantando, dançando, tocando qualquer instrumento musical, sendo quem realmente quisermos ser.

Um poema desabafado:


Estava circundado pela música 
Tocava incansavelmente em minha mente 
Eu estava quase enlouquecendo 
Mas parecia que eu precisava ouvir 
Cada verso, cada palavra, 
Eu era o Romeu da história 
E a música não parava de tocar 
Era romântica e ao mesmo tempo cruel 
Era bela e ao mesmo tempo assustadora 
Era minha vida pedindo licença, 
Ouvi a música várias vezes 
Somente porque me lembrava de alguém 
Alguém que me fez chorar 
E alguém que ao mesmo tempo me fez sorrir, 
Eu amava essa pessoa mais do que tudo 
Mas hoje não tinha tanta importância, 
A vida está bela desse jeito 
E as nuvens que pousavam 
Do nada se foram 
Foram tarde, passei muito tempo chorando 
Lamentando meu estado civil: 
Solteiro com coração pregado 
Mas ainda havia um dilema 
Como esquecer? 
Resolvi pedir ajuda, contar para alguém 
Dizer que amava em segredo 
Quem um dia me fez derrubar lágrimas, 
Chorei em pensar que um dia 
Essa pessoa soubesse, 
Contei para minha melhor amiga 
Ela sorriu e disse: 
O que você sente é amor! 
Espantei-me, não podia ainda amar 
Chorei, sofri, lamentei, desesperancei, 
E ainda amei 
Amei pela última vez. 
- Mentira... 
Nunca deixaria de amar 
Mas estou triste com essa realidade 
Hoje sinto que sou descartado 
Uma reciclagem seria pouca 
Estou com o coração esfarpado, 
A pessoa que eu amei 
Nunca me amou 
A pessoa que me fez chorar 
Nunca chorou por mim 
A pessoa que me fez sorrir 
Nunca riu para mim, 
Nem hoje e quem sabe, nunca. 
Estou no meu quarto 
Deitei na cama e pensei 
“Ame quem te ama” 
Chorei, 
“Não sei fazer isso” – pensei 
Romeu morreu. 
E ao fundo ainda toca a música: 
“Ela via o mundo, ele via o mundo, 
Viam sob a mesma luz.” 
E depois do Repeat cansar 
Desliguei a vida 
Por que: “Ela via o mundo, Ele via o mundo”...


Escrito em meu livro empoeirado e arquivado para o resto da vida. Uma memória indigerível a menos, e o amor? 

Pois bem, redigi essa parte a minha querida amiga e escritora Larissa Tassin, escritora, blogueira, dona do blog Ninna. Certamente Ninna* (seu pseudônimo, ou como eu poderia relatar, seu EU interior) saberia o que dizer, visto que dá opiniões e expressa ponto de vista sobre variados assuntos. Uma das razões de nascer meu blog foi exatamente por influência de seus textos, então, considero-a demais nada mais justo do que meu ponto de vista sobre seu modo de escrita. 

“Um camaleão da escrita. Mandona de carteirinha e de expressão artística inigualável. Simples, mas ao mesmo tempo magnífica, sabe dar vida aos textos de um modo incrível, sabe nos transportar para seu mundo, mostrar-nos seu livro empoeirado e folheá-lo capítulo por capítulo. Resumidamente, um mundo inteiro dentro de si, onde libera continentes ricos de conhecimento e faz demarcações infinitas de sabedoria – como bem diria o Observador*” - Christopher Duarte.

Vejo o amor como algo leve. É, sim, algo bem leve. Que não nos sufoca, não prende, não nos amarra ao outro e nem faz-nos ficar dependentes um do outro. E, parafraseando Mario Quintana, “quando aperta, já deixou de ser um laço.” 
Sem ser prolixa demais, ou sem buscar a descrição exata do amor (um sentimento que não exige tamanha descrição para ser sublime), falarei. O amor é algo leve, sublime e essencial às nossas vidas. É um dar-se sem esperar nada em troca, mas com a verdadeira alegria de estar fazendo essa “doação” com gosto. 
E fica evidente se formos levar em conta que é um sentimento sublime, logo não pede nada em troca. Você ama por amar e não porque aquela pessoa pode lhe dar algo. Surge naturalmente e deve estar no coração do ser humano porque se não mais estiver, a vida perdeu totalmente o sentido. 
Então fica assim: amor é algo leve, natural, essencial e sublime. Um doar-se sem esperar nada em troca. Amar “apesar de” e não “por causa de”. – Larissa Tassin.

Sim, esse é o amor, o verdadeiro sentido em si... 

Uma página do livro empoeirado da escritora Larissa Tassin, que tive a honra e ao mesmo tempo a permissão de poder compartilhar:

Estive pensando sobre o amor. Sim, sobre o amor. É um tema banal para se escrever, mas pensei exatamente sobre isso: como um sentimento tão grande e maravilhoso está sendo mais do que banalizado ultimamente. As pessoas dizem "Eu te amo" como se fosse "Bom dia". Está ficando cada vez mais fácil amar e desamar de uma hora para outra porque estamos confundindo o que é o amor de verdade.

O que me levou a refletir sobre isso foram minhas próprias histórias conturbadas e trágicas de "amor". Notei como era fácil me falarem que me amavam logo nas primeiras semanas e eu não aceitava isso muito bem, mas acabava me rendendo logo. Porém, é muito difícil me fazer dizer "Eu te amo" para alguém. Acabei falando uma vez e não deu muito certo no final das contas. Mas essa é uma história que posso contar depois.

A questão é que, ao meu ver, o amor não é um sentimento que nasça pronto, completo, inteiro e grande. Quase como algo concreto. Sempre que penso no sentimento de amor que uma pessoa possa ter por outra - em qualquer tipo de relacionamento - penso em uma semente. É, uma semente. Ela nos é dada pequena, daí temos que cuidar e cultivar para ela se desenvolver e virar uma muda. Depois essa muda vai crescendo, sob cuidados, e se transforma em algo maior. E assim, aquela semente transforma-se em uma coisa bem maior. Uma árvore ou algo assim. Assim é o amor. Quando surge é pequeno e à medida que vamos convivendo com a pessoa por quem expressamos esse sentimento, ele vai crescendo e tomando forma, e profundidade. A convivência é o adubo dessa semente, vai fazendo-o crescer.

É triste ver como as pessoas não se dão conta de que o tão falado e esperado "amor" é algo simples e que precise de tantos cuidados e muita paciência para se tornar algo bom de verdade. Mais triste ainda é confundi-lo com sentimentos passageiros e acabar culpando-o pela dor deixada.

Tenho notado também que atualmente tornou-se comum dizer que ama alguém pela internet. Claro, amar alguém que você não tem que aturar, respeitar as diferenças e não conhece os piores defeitos é realmente muito fácil e prazeroso. Mas isso não é amor! Santo Deus, quanta ignorância!. Claro que a internet pode fazer-nos conhecer pessoas legais, mas só a convivência e o conhecimento do outro pode fazer um sentimento brotar no coração.

Será que as meninas não notaram ainda que os inúteis que elas correm atrás morrendo de amores, dizem "Eu te amo" para todas as menininhas fáceis que aparecem pela frente? Será que não é notável que aquele ídolo por quem alguém tem aquela paixão platônica ridícula não está nem aí se você diz que ama ele mais que tudo na vida e gasta seu tempo e seu dinheiro com coisas dele? (A parte do dinheiro até o interessa, sim). A verdade é que as pessoas só vão entender o que é o amor de verdade quando amarem primeiro a si mesmo e aceitarem ao outro como ele é.

Por fim e não menos importante: Ame-se, de vida a vida, escreva, crie, seja você, não permita ser controlado, não seja apenas mais um, pense por si só, e digira suas memórias indigeríveis em seu livro empoeirado. 

Confuso (a)? Apenas pare e reflita sobre tudo o que leu até aqui e entenderá o real sentido desse mundo indigerível que lhe proporcionei. 

“SORRIA, POIS NINGUÉM SORRIRÁ POR VOCÊ” – Christopher Duarte

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