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Memórias Indigeríveis - Parte III



O dia estava apenas começando e faltavam-no palavras para explicar o que sentia, para se expressar ou até então tentar expor o ocorrido em sua mente. Entretanto, tinha convicção que tudo o que sentia deveria ser guardado, pois nem sempre encontraria pessoas que pudessem interpretá-lo, entende-lo.

E o amor?

Pois bem, assim como citado em suas formas de escrita, ele adorava expor de maneira errônea os fatos e tentar passar muita sutilidade nos sentimentos, visando que evitava ao máximo tentar transparecer o verdadeiro sentido deles. Queria expor o que sentia, mas não queria expor como estava naquele momento realmente.

Tanto que suas paixões platônicas causavam-no dor e um certo arrependimento ao fim de cada relacionamento consigo mesmo, pois nem mesmo conseguia dar uma chance para si, apenas sofria calado com seus sentimentos, não expressava e nem muito menos dizia o que sentia pela pessoa amada. Por quê? Porque tinha medo da resposta ao poder ouvir soar de seus lábios: EU TE AMO!



Sabia guardar tudo, suportava igual uma rocha, mas com o tempo ia se sentindo pesado e destruído emocionalmente e descontava na escrita o que tanto lhe machucava, o que tanto o interferia de ser aquela pessoa sorridente. Entretanto vale lembrar que sempre soube disfarçar suas dores, sempre soube se portar com um grande sorriso nos lábios perante os que o rodeavam, mesmo que a situação interior não estivesse muito bem.



Uma rocha que não chorava ao ar livre, preferia se recolher para poder desfrutar de cada lágrima. Desfrutar? Sim, pois sabia que a cada lágrima o sofrimento estava sendo posto para fora, que tudo aquilo que tanto o incomodava estava sendo atirado ao longe, enfim, que a rocha estava voltando a ser rocha e não se tornando argila.

Mas e o amor? Por que não deixar que a própria escrita de nosso escritor nos conduza e faça-nos entender o que tanto queria passar? Pois bem:

“Eu estava encantado por seus olhos. Que belos olhos. Eram castanhos cor de mel e de aparência encantadora. Eram reluzentes e faziam meu coração pulsar cada vez mais a cada piscar. Era uma pele delicada e suave, não havia a tocado, mas sabia que era delicada e suave por que era bela e atraente. Tinha um rosto angelical e sua fisionomia era de perfeição. Estava me completando. Senti que precisava me aproximar e dizer um oi. Mas não consegui, fiquei vidrado e observando de longe cada movimento. Desviava o olhar toda vez que seus olhos vinham de encontro aos meus. Em meio a tantas pessoas eu não sabia se continuava olhando de longe ou prestava atenção na palestra que estava havendo. Dúvida cruel.

Foram os melhores cinco dias de minha vida. Senti que estava apaixonado e senti borboletas no estômago. Não eram bem borboletas, estavam mais para dragões que iam e vinham e faziam minha barriga ter grandes calafrios. Nunca havia me sentido assim antes. Aquela semana de palestra havia mudado minha vida. Havia ido com o intuito de aprender mais e infelizmente foi o dia que me deparei com o amor. Talvez eu não precisasse ter encontrado o amor, pois os dias que estavam por vir acabaram sendo piores. Mas não acabou assim tão rápido.

O primeiro e segundo dia, não houve muita coisa, só sei que acabou sendo amor à primeira vista. Senti que meu chão estava repleto de neve e os passos ficavam mais complicados, mas fiz de tudo para que notasse minha presença. Não foi bem o que aconteceu. Mas meu coração pedia mais. E foi o que eu fiz, voltei para casa confiante. O terceiro e quarto dia foram os melhores de todos, consegui pedir seu MSN e inventar uma história maluca para disfarçar o pedido tão inesperado de sua rede social. E consegui sentar um lugar atrás do seu, via que sua cadeira repousava sua bela silhueta e seus braços repousavam sobre uma pequena agenda. Fui contemplado com sua bela voz, ela virou-se e disse-me algo que eu acabei não prestando muita atenção porque eu estava fixado olhando em seus belos olhos. Mas o quinto dia foi de cortar o coração. Acabaram as esperanças. Último dia de palestra, o que fazer? Apenas guardar isso como uma experiência frustrante que a vida lhe deu. Eu estava com um MSN em mãos e acabou-se que continuamos trocando mensagens por alguns dias. Sofri.

Coloquei expectativas em uma pessoa que nunca teria Q.I o suficiente para entender o que sinto. Ri muito para disfarçar o modo que meu coração despedaçava ao a ver sair ou entrar no MSN sem nem ao menos me dizer um simples oi. Talvez eu nunca precisasse ter pedido aquele maldito MSN que me fez sofrer muito. Sinto que fui usado, pois as únicas duas vezes que me chamou para conversar queria algo. Triste realidade. Infelizmente essa ditadura da minha vida durou longos dois anos. Porque nunca disse que a amava? Por que não mudaria nada. E nunca mudou. Fomos amigos, depois colegas e agora somos apenas desconhecidos. Não guardo mágoas dessa aventura que me lancei ao mar sozinho, eu guardo isso como ensinamento. Se tiver que se apaixonar por alguém novamente terá que ser da pior forma, usando o cérebro ao invés do coração.

Ao ouvir tocar no rádio uma música da Katy Perry, Part of me, pude sentir o drama na alma, pois toda vez que ela dizia: “THIS IS THE PART OF ME”, eu me lembrava desse passado que hoje procuro esquecer. Porque “THIS IS THE PART OF ME” ainda machuca.”

Da magnitude de expressão do ser até a forma que o texto lido soa aos nossos ouvidos, era tudo bem elaborado para poder passar convicção do que sentia e o que estava querendo passar como mensagem. Mas colocou como pensamento que não saberia amar. E realmente não saberia, estava ocupado demais tentando ser perfeito do que preocupado com o amor próprio para poder distribuí-lo.

Voltando ao belo início de manhã, após se arrumar e seguir rumo à escola ia pensando pelo caminho nas possibilidades imensas de conseguir conquistar a pessoa que no momento estava sendo colírio para seus olhos, mel para sua alma. Entretanto, nunca se viu conseguindo mexer os lábios para dizer um simples “oi” ou começar uma conversa com a pessoa que tanto desejara. Apenas conseguia observar, observar e observar, esperando que surgisse uma luz do céu e fizesse a outra pessoa vir puxar assunto. Visto que isso nunca ocorreu, apenas se contentava em colocar os fones de ouvido e ouvir suas músicas tristes e melancólicas.

Chegava em casa procurando um lugar para despejar tanto carinho e amor acumulados dentro de si e o piano sempre estava sendo a melhor solução, pois ali não havia regras, nem medos e nem muito menos incertezas. Fechava os olhos e tocava vagarosamente tudo o que estava vivendo, era belo e ao mesmo tempo solitário, porque estava só com a melodia e seus sentimentos. A melodia confortava, mas os sentimentos queriam encontrar na melodia uma razão para não bombardear o jovem escritor/pianista/sonhador.

Pois ele bem sabia que estar só era o que lhe dava coragem para seguir em frente. Pois todas as vezes que olhasse ao seu redor e não encontrasse alguém, saberia que deveria continuar caminhando porque lá na frente alguém esperava. Eu pelo menos espero que haja alguém. Espero!

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