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Memórias Indigeríveis - Parte II


Apesar de todas as manhãs fazer o mesmo e cansativo itinerário pela casa, nunca se cansava. Estava disposto a seguir essa rotina à risca.

Sua mente sempre um turbilhão de ideias e pensamentos retóricos, entretanto, baseava-se sempre no que achava ser certo. Apesar de visar nas pessoas o humor, buscava sempre saber o grau intelectual que elas contêm para poder partilhar um pouco do que sabia e escrevia, mesmo que elas apenas o interpretassem com um simples: HUM!

Talvez trouxesse no peito um livro de capa dura e empoeirado, pois nunca se quer conseguiu abri-lo para escrever o que realmente sentia pelo amor. Apesar de resplandecer alegria trazendo um sorriso largo no rosto e gargalhadas estupefaças, trazia no peito uma dor por querer encontrar a pessoa certa que realmente o amasse e que realmente o ensinasse a amar. As vezes ao se sentir tão só conseguia apenas passar para o papel textos de autoajuda, que na verdade serviam de consolo para si próprio, tais como:



“A inocência daquela criança interior era exuberante, deixava os lugares cheios de alegria e confortava até os mais rancorosos com tantas formas de manisfestar o que sentia através de longos risos e piadas até então sem sentido para si. Era uma forma brusca de buscar nos outros o que faltava em grande quantidade em si mesmo, visando que buscava pela rara felicidade que fazia-se pó toda vez que a procurava. Sentia-se feliz por fora, mas o exterior pouco basta se o interior já tem manchas de um passado triste e uma relevância fria sobre acontecimentos que apenas pode entender anos depois. E retirando-se rapidamente dali, apenas conseguiu enxergar que a vida era mais do que escrever o que sentia e pedir ao mundo que ignorasse suas imperfeições, entretanto não se havia imperfeições, apenas uma sociedade sem cultura o suficiente para interpretar mentes brilhantes que nasciam de uma sensibilidade incrível as mentes que o rodeavam. 


Mas não foi assim que tudo começou...

Viver em casa sempre foi um dos Hobbies preferidos daquela criança (que apesar da idade um tanto quanto maior a de poder ser considerada uma, expressava uma alma juvenil o bastante), havia apenas quatorze anos muito bem vividos, sem tristezas e com reações frias a acontecimentos que marcariam a vida de qualquer pessoa para o resto da vida. Manteve-se firme quando necessário e não soube expressar tristeza, pois sempre buscou ser uma esponja e sempre absorver o seu derredor, mas nunca molhar através de atitudes o que sentia. Estava acumulando à anos a integridade de outro ser humano, parecia que outra pessoa vivia dentro de si, que aquela casca exterior apenas expressava um sorriso sem motivos e brincadeiras que a deixassem um tanto quanto despreocupada se o real motivo de viver feliz houvesse que ser assim.

Demorou para perceber que os livros eram mágicos...

Continuando com a mesma linha de pensamento, nunca valorizou que as pessoas que sorriam consigo estavam sorrindo por viverem um sonho, por estarem em êxtase, por acharem graça de algo que era dito sem o intuito de a fazerem rir (vendo que funcionou, começou a impor sempre nos rápidos diálogos que tinha com os demais um toque de humor), buscando sempre entender porque todos riam sem motivos. Não posso dizer que era uma pessoa triste, era muito feliz, mas a felicidade contia-se ali por se importar com os problemas que o rodeavam (se importava com os problemas, passava noites em claro tentando buscar uma solução para algo que não dependia de si, mas pouco expressava para não ser condenado) e a vida apenas prosseguia, sem ao menos saber que estava se trancando para o mundo, e buscando nos meios eletrônicos um refúgio para isso.

Até que descobriu na escrita uma forma mágica de expor o que sentia e ir despejando naquele papel um pouco dos sentimentos que sempre guardava. Começou a criar pequenos livretos, feitos com folhas de papel recortados ao meio, criando assim um pequeno livro com várias folhas para suas admiráveis histórias. Conseguiu um espaço todas as semanas na sala em que estudava para ler o que escrevia e mostrar aquelas ilustrações terríveis sobre o que havia escrito (terríveis mesmo, nunca tive dom para desenhar). Era estampado em seu rosto a alegria de ver todas seus colegas de sala rirem com o projeto tão simples e sem base que havia feito, enchia seu peito de orgulho e seu sorriso de confiança. Estava começando a achar na escrita sua verdadeira felicidade interior.

Enfim, surgiu o amor...

Da ponte que ligava ele a vida amorosa, havia um buraco imenso que o impedia de ultrapassar e chegar ao outro lado. Relembrando que seu Hobbie era ficar em casa, nunca achou graça nas brincadeiras convencionais de sair à rua para brincar e expressar gargalhadas com brincadeiras infantis, mas que tiravam boas gargalhadas da criançada. Mas não posso dizer que nunca brinquei na rua, já me diverti muito, mas não sentia necessidade em sair para me divertir lá fora, sendo que ficar em frente a uma TV já era o suficiente para suprir minha felicidade. Estava dedicando-me cada dia mais aos pequenos livretos. 

Entretanto, a prestação de serviço sempre foi uma de minhas qualidades. Adorava ver alguém feliz por eu ter o ajudado e creio que me mantenho assim até os dias atuais. Creio que no meio desses "vai e vem" que a vida nos proporciona, consegui descobrir em um encontro de catequistas o verdadeiro amor. A intenção era proporcionar as crianças que estariam comigo durante aquele ano uma iniciação sobre a vida de Jesus e a igreja. Aproveitei muito e descobri que estava me apaixonando pela igreja e seus preceitos cada dia mais. Mas não foi bem o amor que havia encontrado. Encontrei uma pessoa que conseguiu em segundos fazer de mim uma pessoa feliz e doente por atenção. Apenas ao observa-la pude entender o porque não contia-me em mim de tanta alegria. Foi Mágico. Foi, hoje não é mais.

Avançando ainda mais no tempo...

Com o tempo consegui entender que o amor baseia-se em felicidade, carinho, paixão, compromisso, fidelidade, amizade. Tudo o que levamos uma vida inteira para aprender e colocar em prática, para assim sermos amados e termos discernimento para achar uma pessoa que também pense o mesmo. Sofri? Sim eu sofri. Entretanto, não me arrependo daquele dia que conheci aquela pessoa maravilhosa, apenas soube que o amor fere caso não seja correspondido. A vida é longa, ou curta demais, nunca saberemos. Arrependimentos? Talvez alguns. Mas não mudaria nada.

Chegando aos dias atuais e entendendo no que me transformei...

Se eu sorrir, se eu chorar, se eu gritar, se eu murmurar, se eu encarar, se eu balbuciar, saberei que terei um motivo e que não serei apenas uma casca que manifesta apenas uma mentira. Continuo escrevendo e buscando nas linhas da vida um pouco de exatidão. Procurando nas novas amizades um pouco de sinceridade e aceitação. Mas, valorizando sempre o que vivi e aprendi. Cada um tem uma história de vida, gostaria de saber de todas e poder contá-las em um livro, visto que não seria um trabalho e sim um novo Hobbie.

Mas estou de frente a velha estante de madeira, guardando nesse Livro Empoeirado um pouco de mim, um pouco do que sou. Pois eu sei: "Ninguém sorrirá por você, mas você poderá escrever seus sorrisos em seu Livro Empoeirado"”

E assim esvaziava o peito sempre que sentia que o coração estava pesaroso. Escrevia para os outros o que realmente era para si. Escrevia para os anônimos o que era para ser dito para si. E buscava na alegria um aconchego. Até que pudesse encontrar o que tanto procurava.

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